CEAA - Centro de Estudos Arnaldo Araújo

Actividades

PERSPECTIVAS DE TEORIA; CRÍTICA E HISTÓRIA DA ARTE

PERSPECTIVAS DE TEORIA; CRÍTICA E HISTÓRIA DA ARTE

Seminários da Primavera /1
PERSPECTIVAS DE TEORIA; CRÍTICA E HISTÓRIA DA ARTE
Sala de Actos da ESAP
28-29 Março 2014
Organização conjunta do CEAA /ESAP e do IHA/FCSH-UNL
Apoios: FCT, Licenciaturas de Artes Plásticas, Artes Visuais – Fotografia e Teatro da ESAP.

Programa
Perspectivas de teoria, crítica e história da arte /Joana Cunha Leal
Marxismo, sociologia e crítica institucional / André Silveira
Formalismo e Clement Greenberg / Sofia Nunes
Estruturalismo e pós-estruturalismo / Joana Cunha Leal
Psicanálise e estudos de género / Emília Pinto de Almeida
Antropologia, pós-colonialismo e estudos visuais / Maria Coutinho

 

Resumos e bios

O ciclo de sessões que inaugura os Seminários da Primavera (resultantes de uma parceria IHA/CEAA) analisa e discute algumas das perspectivas fundamentais dos debates e das narrativas sobre a arte e a sua história. Parte-se assim da apresentação de algumas das correntes de pensamento que informaram, dialogaram com, e contribuíram para consolidar a escrita da arte, sublinhando as ferramentas conceptuais e as questões que permanecem actuantes nas perspectivas teóricas, críticas e historiográficas contemporâneas. Paralelamente, averigua-se em que medida o diálogo entre a história da arte e os outros campos de pensamento e conhecimento foi sendo exigido pelos próprios objectos artísticos, na medida em que estes reclamam abordagens heterogéneas capazes de fazer justiça à complexidade e resistência que os caracterizam.
As cinco abordagens escolhidas não pretendem esgotar os enfoques possíveis, mas elucidar o carácter historicamente determinado dos modos e dos métodos da escrita da arte ao mesmo tempo que chamam a atenção para a sua plasticidade e necessária abertura. 

PERSPECTIVAS DE TEORIA, CRÍTICA E HISTÓRIA DA ARTE
Joana Cunha Leal

Sessão introdutória dedicada à análise e discussão das alterações que se produzem no debate sobre o campo artístico na modernidade a partir de dois eixos fundamentais: 1) a superação da teoria clássica da arte como imitação da natureza (mimesis); 2) a afirmação da estética moderna e a constituição dos campos da crítica e da história da arte. Sublinha-se o paradoxo entre a moderna concepção de autonomia da arte e a constituição do campo de conhecimento da história da arte, cuja vocação não especulativa, e mesmo a procura de inscrição científica, se traduz numa dificil negociação entre concepcões historicistas e a ideia de que a arte nasce da própria arte.

Bibliografia
Art in Modern Culture: an anthology of critical texts (ed. F. Frascina and J. Harris). – London: Phaidon, 1992
Historia de las ideas estéticas y de las teorias artísticas contemporáneas (ed. Valeriano Bozal). – Madrid: Visor, 1996, 2 vols
The Art of Art History: A Critical Anthology (ed. Donald Preziosi) New Edition, Oxford University Press, 2009.

Joana Cunha Leal é professora do Departamento de História da Arte da FCSH-UNL, onde orienta o seminário de teoria da arte do doutoramento em História da Arte. É investigadora integrada do IHA da mesma instituição e colaboradora do CEAA. Co-editou recentemente o N.10 da Revista de História da Arte – práticas da teoria e é autora de vários artigos, entre os quais: “Trapped bugs, rotten fruits and faked collages: Amadeo Souza Cardoso’s troublesome modernism”, Konsthistorisk tidskrift/Journal of Art History. N. 2, 2013, pp. 99-114; “Plain, Pombaline and (Post)modernism: On some pre and post-Kublerian narratives on Portuguese architecture”, cescontexto Debates, N.3, 2013, pp. 7-17; “Criação, apropriação, deslocação (sobre a pintura de Amadeo Souza Cardoso)”, Revista de História da Arte. – N. 10 – práticas da teoria, 2012, pp. 111-127; “On the Strange Place of Public Art in Contemporary Art Theory”, On The W@terfront. – Barcelona: Polis, N.16 (Dez 2010), pp. 35-52; “Uma entrada para Entrada. Amadeo, a historiografia e os territórios da pintura”, Intervalo. – Lisboa: Vendaval, N. 4, 2010, pp. 133-153

MARXISMO, SOCIOLOGIA E CRÍTICA INSTITUCIONAL
André Silveira

Ao estabelecermos a ligação entre Marxismo, Sociologia e Crítica Institucional estamos, antes de mais, a referir-nos à indissociabilidade entre os desenvolvimentos do Marxismo e da Sociologia desde o seu momento fundador, no século XIX, e à relação destes com o surgimento da Crítica Institucional, na segunda metade do século XX. Para tal, teremos de dar conta, ainda que sumariamente, de algumas das múltiplas variantes a que os termos Marxismo e Sociologia se referem, interessando perceber de que modo as diversas teorias marxistas e sociológicas se colocaram em relação à oposição em que radicavam inicialmente. Laborando a partir de faces opostas de um mesmo movimento histórico que procurava conferir um estatuto científico ao estudo da realidade social, capaz de superar o pensamento a partir de categorias meta-físicas, tanto o pensamento de raiz marxista como as teorias sociológicas evoluíram num debate mútuo que irá informar o modo como o campo da arte foi sendo problematizado, tanto do ponto de vista prático como teórico, e no qual a Crítica Institucional se insere. A partir desta, traçaremos uma elipse que nos traz desde meados do século XX até ao tempo presente, discutindo o que compreende o termo Crítica Institucional pesando o seu surgimento, fundamentalmente a partir da prática artística, e a recuperação que o termo tem conhecido desde meados da primeira década deste século.

Bibliografia
Art and contemporary critical practice, reinventing institutional critique, Ed. RAUNIG, Gerald, RAY, Gene, Londres: Mayfly, 2009.
Chevallier, Jean-Jacques, Guchet, Yves - As Grandes obras políticas, de Maquiavel à Actualidade, Mem-Martins: Publicações Europa-América, 2004 (2001, 4ª ed.).
Cruz, M. Braga – Teorias Sociológicas, os fundadores e os clássicos (antologia de textos) - I volume, Lisboa: FCG, 2010 (1988).
www.marxists.org

André Silveira é licenciado em História da Arte e pós-graduado em História da Arte Contemporânea pela FCSH-UNL. É doutorando em Teoria da Arte na mesma instituição, bolseiro FCT (2009-2013) e membro do IHA. Autor do volume dedicado a Almada Negreiros na Colecção Pintores Portugueses. Colaborou com a revista L+Arte no âmbito da Secção Arquivo, com a Culturgest e trabalha regularmente com o CAM – FCG.  

FORMALISMO E CLEMENT GREENBERG
Sofia Nunes

O discurso do formalismo, remontável a finais do século XIX e primórdios do século XX, conhece uma nova realização na transição para os anos 1940 com o crítico de arte norte-americano Clement Greenberg (1909-1994). Tendo iniciado os seus escritos em 1939, Greenberg vai desenvolver um posicionamento formalista próprio, de enorme repercussão para a História da Arte Moderna, que culminará na salvaguarda do juízo estético do gosto e sua articulação à ideia de especificidade do medium artístico. A partir das leituras de “Modernist Painting”, 1960 e de “After Abstract Expressionism”, 1962, vamos compreender as principais características do seu formalismo, incluindo a constelação de conceitos que o definem, e o modo como o autor sustenta a sua teoria a partir de alguma da produção artística do seu tempo.

Bibliografia
Bois, Yves-Alain, “Formalism and structuralism”, Art Since 1900. Modernism, Antimodernism, Postmodernism, London: Thames & Hudson, 2004.
de Duve, Thierry – Kant after Duchamp, Cambridge, Massachussets: The MIT Press, 1996.
Greenberg, Clement, “Modernist Painting”, Clement Greenberg. The Collected Essays and Criticism (ed. John O’Brian), vol. 4. Chicago, London: The University of Chicago Press, 1995.
Greenberg, Clement, “After Abstract Expressionism”, Clement Greenberg. The Collected Essays and Criticism (ed. John O’Brian), vol. 4. Chicago, London: The University of Chicago Press, 1995.

Sofia Nunes é licenciada em História Moderna e Contemporânea, ISCTE e mestre em Ciências da Comunicação – Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias, FCSH-UNL. Atualmente é doutoranda em História da Arte (Teoria da Arte) FCSH-UNL, membro do IHA, bolseira da FCT e prepara a sua investigação académica sobre a autonomia do objeto artístico. É crítica de arte, escrevendo com regularidade para a revista artecapital e outras publicações da especialidade. 

ESTRUTURALISMO E PÓS-ESTRUTURALISMO
Joana Cunha Leal

Esta sessão introduz o impacto que o modelo epistemológico do estruturalismo e do pós-estruturalismo (lançado pela radical desnaturalização da produção de significados, a arbitrariedade que Saussure confere à relação entre significante e significado e a sua concepção de língua como um sistema de diferenças) teve no campo dos discursos teóricos, críticos e historiográficos sobre a arte.
Partindo, nalguns casos explicitamente, da base do formalismo (concepção dos estilos artisticos como sistemas formais), o estudo dos mecanismos de significação das obras de arte, ou seja, das estruturas de significação (e não dos seus conteúdos como no caso da proposta iconológica de Panofsky), combate tanto o essencialismo embebido na noção de arte, quanto a noção de subjectividade elevada pela dimensão autoral das práticas artisticas (em Mukarovsky, por exemplo). Nasce aqui também o combate sem tréguas que se definirá contra as lógicas historicistas, imanentistas e de louvor à marca de intencionalidade artistica, cara aos discursos da crítica e da história da arte. Estes são em grande medida os termos em que Rosalind Krauss, que será uma das autoras a focar, constrói a sua perspectiva crítica, teórica e historiográfica.

Bibliografia
Mukarovsky, Jan, “A Arte como facto semiológico”, Escritos sobre Estética e Semiótica da Arte. – Lisboa: Estampa, 1988 [1936]: 11-17
Krauss, Rosalind, The Originality of the Avant-garde and Other Modernist Miths. – Massachussets: MIT, 1991 (1985)
“Sculpture in an expanded field”, The Anti-Aesthetic: Essays on Postmodern Culture (ed. Hal Foster). – Seattle: Bay Press, 1993 [1983]: 31-42
Bal, Mieke; Bryson, Norman, “Semiotics and Art History”, The Art Bulletin. – Vol. 73, N. 2 (June 1991), pp. 174-208 

PSICANÁLISE E ESTUDOS DE GÉNERO
Emília Pinto de Almeida

A ponderação de forças e de ordens extra-racionais esteve desde sempre no horizonte daqueles que se preocuparam em problematizar o fenómeno da Arte. Retrospectivamente, de Kant a Platão, encontramos esboços de teorias da inspiração artística, cujo alcance entretanto foi aguçado e alargado pela emergência da Psicanálise, nos alvores de 1900, já que ela permitiu associar à indeterminação da potência criativa a noção de inconsciente e a compreensão de pulsões, subterrâneas, que regeriam as suas manifestações e efeitos disruptivos. Perceber em que medida essa emergência influenciou o devir bem como a história da arte moderna e contemporânea, dotando artistas, historiadores e comentadores de um vocabulário operativo passível de integrar tal manancial – obscuro ou, pelo menos até então, insondável – é o objectivo principal desta sessão. Revisitaremos certos momentos-chave que ajudam a delinear o complexo e intrincado panorama da relação entre Arte e Psicanálise ao longo do século XX, não descurando a sua fortuna crítica mais actual, após a importante revisão de que foi alvo graças às teorias feministas e aos Estudos de Género, que vingaram a partir dos anos 70.

Bibliografia
Bersani, Leo, The Freudian Body: Psychoanalysis and Art, New York: Columbia University Press, 1986.
Kofman, Sarah, The Childhood of Art: An Interpretation of Freud’s Aesthetics. Trans. Winifred Woodhull, New York: Columbia University Press, 1988.
Laplanche, Jean, Pontalis, Jean-Bertrand, The Language of Psychoanalysis. Trans. Donald Nicholson-Smith, London: Karnac Books, 1988.
Rose, Jacqueline, Sexuality in the Field of Vision, London: Verso, 1986.

Emília Pinto de Almeida é licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos e mestre em Filosofia (Estética) pela FCSH-UNL. Bolseira da FCT, prepara actualmente o doutoramento em História da Arte (Teoria da Arte) na mesma instituição. É membro do IHA e do Elab. Dedicando-se ao estudo da arte contemporânea, prefaciou o catálogo de diversas exposições. 

ESTUDOS VISUAIS, ANTROPOLOGIA E PÓS-COLONIALISMO
Maria Coutinho

Será o aumento significativo dos recursos visuais, a par da eclosão da cibernética, a provocar alterações na literacia visual e a favorecer um debate reflexivo, cujo potencial se alarga progressivamente ao cinema, à BD, aos ‘Cartoons’, à fotografia, etc. Tal processo culminará numa possível alteração de paradigma, cultural e tecnológico, que enforma os estudos visuais.  Veremos como este movimento estimulou abordagens que enfatizam as implicações políticas e sociais da imagem, reclamando o seu reconhecimento no seio de sistemas culturais.
Do mesmo modo, interessará referir em que medida o reconhecimento da arte como parte de complexas relações sociais já havia sido reivindicado pelos estudos antropológicos sobre arte, beneficiando das suas especificidades metodológicas, como o método etnográfico e o interesse em sociedades, contextos ou objectos marginalizados.
Assistimos, no centro destes debates, à contestação de múltiplas dinâmicas de poder, como as que radicam numa visão euro e etnocêntrica da história da arte, o que tornará possível, ao longo da nossa sessão, estabelecermos além do mais afinidades com as teorias pós-colonialistas.

Bibliografia

Anthropologies of Art, Ed. Mariët Westermann, MA: Sterling and Francine Clark Art Institute, Yale University Press, 2005.
Deslocalizar a “Europa”: antropologia, arte, literatura e história na pós-colonialidade, org. Manuela Ribeiro Sanches, Lisboa: Cotovia, 2005.
Mitchell, W. J. T., Picture Theory, Chicago: The University of Chicago Press, 1994.
Elkins, James, Visual Studies: A Skeptical Introduction, Londres, Nova Iorque: Routledge, 2003.

Maria Coutinho é licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos e pós-graduou-se em História da Arte Medieval na FCSH-UNL. Bolseira da FCT, prepara actualmente o doutoramento em História da Arte (Teoria da Arte) na mesma instituição, sobre poesia visual, centrando a sua reflexão em manuscritos medievais. É membro do Elab, do IHA e do Instituto de Estudos Medievais, onde dá apoio editorial na Revista Medievalista online.