FOTOGRAFIA, ARQUITECTURA MODERNA E A “ESCOLA DO PORTO”: INTERPRETAÇÕES EM TORNO DO ARQUIVO TEÓFILO REGO
Desde o início da história da fotografia que a arquitectura constituiu um dos seus principais temas. Nos últimos dois séculos, muitas vezes, o primeiro encontro com um edifício ou um ambiente construído aconteceria a partir de uma imagem, normalmente uma fotografia. No entanto, apesar da sua importância, o estudo da fotografia de arquitectura é geralmente subestimado.
O projecto de investigação centra-se na análise da relação entre a fotografia e arquitectura, particularmente no contexto do surgimento da arquitectura moderna em Portugal, a partir do estudo do espólio do fotógrafo Teófilo Rego, que documenta obras da geração de arquitectos portuenses denominada como “escola do Porto”.
Pretende-se analisar as potencialidades do registo fotográfico enquanto ferramenta para o desenvolvimento de novas interpretações da teoria, crítica e história da arquitectura, a partir de 1940, quando a disseminação da arquitectura moderna e da própria prática fotográfica coincidem em Portugal.
O ponto de partida desta investigação será o espólio do fotógrafo Teófilo Rego (1914-1993). Pertencente à Fundação Manuel Leão e constituído por cerca de 600.000 espécies fotográficas — cujo estudo sistematizado se encontra por fazer — este acervo documenta, entre outros temas, um dos mais completos retratos da Arquitectura Moderna do Norte de Portugal, reunindo fotografias das obras de arquitectos, como José Marques da Silva, João Andresen, Januário Godinho, Arnaldo Araújo, Luís Pádua Ramos, José Carlos Loureiro, Alfredo Viana de Lima, Agostinho Ricca Gonçalves ou Rogério de Azevedo, entre outros.
Para além da evidente riqueza patrimonial e historiográfica do Arquivo Teófilo Rego — composto, na sua maioria, por fotografias inéditas dos projectos de edifícios e de conjuntos urbanos, realizados e não realizados, desses arquitectos, que se encontram na génese da, internacionalmente reconhecida, “Escola do Porto”, nascida entre a influência pedagógica de José Marques da Silva e Carlos Ramos — a este acervo, pelas suas características, acumula-se o interesse de permitir efectuar um conjunto de outras leituras de comparável interesse. Pois, para além de nos possibilitar aprofundar o estudo deste período particular da história da arquitectura portuguesa, ao acompanhá-lo de uma perspectiva monográfica do próprio fenómeno; permitir-nos-á igualmente efectuar uma leitura crítica sobre o papel da fotografia na produção arquitectónica e urbanística, a partir do contexto específico da “Escola do Porto”, mas igualmente reconhecível numa arquitectura portuguesa, de certa forma nesta filiada.
Ou seja, pretender-se-á, para além de analisar a forma como, nesta época, o projecto de arquitectura e a sua imagem se interinfluenciam, e como a produção de imagens e a montagem fotográfica se constituem como ferramentas de comunicação e de projecto; simultaneamente discernir as relações que se foram estabelecendo entre fotógrafos e arquitectos, e aferir como foram usadas as fotografias encomendadas: se o objectivo foi estritamente profissional, se foi usado para a construção de um arquivo pessoal, ou se foi direccionado para exposições e publicações. Sendo, para cada um dos casos, determinante perceber até que ponto o fotógrafo permanece anónimo, enquanto a imagem faz realçar o autor do objecto fotografado: o arquitecto. Demonstrando precisamente como, desde a arquitectura moderna, a fotografia se constituiu como um instrumento imprescindível na concepção, divulgação e promoção do projecto arquitectónico; assim como enquanto ferramenta indispensável na comunicação das ideias e teorias que este sustenta.
São três, os objectivos primordiais deste projecto:
1) Iniciar a recuperação, organização e estudo do arquivo Teófilo Rego, com vista à constituição de um acervo documental sobre fotografia e arquitectura moderna do porto e norte de Portugal.
2) A produção de uma leitura crítica sobre a relação entre fotografia e arquitectura, a partir do contexto do surgimento da “escola do Porto”, com vista à clarificação do papel da fotografia enquanto ferramenta de comunicação e de projecto, no campo da produção arquitectónica, desde a emergência da arquitectura moderna portuguesa até à contemporaneidade.
3) A divulgação pública e adequação deste acervo documental, e respectiva leitura crítica, a públicos especializados e não-especializados, através da constituição de uma base de dados on-line, roteiro da arquitectura moderna do Porto e Norte de Portugal, projecto expositivo e respectivo serviço educativo.
Deste modo, através desta tripla aproximação, o projecto procurará ultrapassar a simples preservação e contextualização deste acervo, permitindo o acesso público às espécies fotográficas em questão e a todo o conhecimento produzido. Assim como propiciará, através de um momento expositivo e serviço educativo, um espaço experimental de reflexão e aprendizagem, na tentativa de trabalhar um arquivo fotográfico a partir de uma perspectiva contemporânea.