É inútil e indigno esperar pela amarra ibérica ou europeia para arrumar a casa. A prioridade é inversa: arrumar a casa para estar à mesa colectiva como em casa própria [Eduardo Lourenço | O Complexo de Marx]
Na verdade, a questão da essência da Europa não é misteriosa nem irrespondível. (...) Não há dúvida de que a Europa não tem nem uma base popular substancial, nem fronteiras sólidas a leste e a sudeste, nem uma identidade religiosa inequívoca.(...) A questão não deve ser: quem, e segundo que critérios e que tradições, pertence a uma “ verdadeira Europa”?...mas: que cenas desempenham os Europeus nos seus momentos históricos decisivos? Quais as ideias que os animam, as ilusões que os mobilizam? Como é que a Europa alcançou a sua história motriz e por que meios esta se mantém em movimento? Onde é que o poder e a unidade da Europa correm o risco de fracassar? Qualquer manual de história um pouco ambicioso dá resposta a estas perguntas [ Peter Sloterdijk | Se a Europa Acordar ]
A noção de “ Europa” tem sido, desde as últimas décadas do século XX, bastante questionada, sobretudo no território dos designados Estudos Europeus. Estes, têm desenvolvido múltiplas investigações sobre o que entendemos, afinal, por EUROPA. Que quadro crítico é possível, hoje, traçar, para compreender as diversas interacções e disseminações que tornam a Europa, fundamentalmente, numa espécie de marca financeira e comercial? Qual o lugar que ainda pode existir, no mundo, para a Europa tal como, tradicionalmente, a entendíamos? Que Europa nos resta após as grandes controvérsias históricas que a atravessaram e continuam a atravessar? Será real o tão propagado multiculturalismo europeu? Qual a possibilidade de um devir heterotópico para a Europa? Por outro lado, a Europa tem sido objecto de complexos debates, no domínio dos quais alguns artistas têm sido chamados a participar, questionando tanto a reorganização política do pós II Guerra, as decisões políticas recentes, ou o mapeamento artístico sustentado em estratégias de geopolítica em contexto global. A partir deste enquadramento crítico, propomo-nos desenvolver um projecto de investigação em torno das múltiplas representações políticas, sociais e artísticas da Europa que tivemos, temos ou queremos vir a ter e que configuram algumas das discussões.
Este projecto articula uma conferência internacional (I) Notas sobre a Europa. O sono dogmático e um projecto curatorial (II) Andando em torno do Sol: Máquinas, Aranhas e Corsários.